Além de colocar os ocupantes do veículo em risco, esse tipo de adaptação é ilegal e pode causar danos ao motor.
Alguns motoristas têm recorrido a uma “gambiarra” para reduzir o custo do quilômetro rodado: converter o carro para funcionar com Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), popularmente conhecido como gás de cozinha. Essa prática, porém, acaba não trazendo vantagens, já que é ilegal, perigosa e danosa para o motor.
O ato de adaptar o carro para funcionamento com gás de cozinha não é recente: nas décadas de 1980 e 1990, isso já ocorria no Brasil, também de maneira irregular. Recentemente, devido à alta nos preços dos combustíveis, tal prática voltou a ocorrer. Porém, claro, ganhou contornos atuais: um kit para fazer a conversão clandestina de veículos para o GLP pode ser comprado pela internet, em sites de anúncios, por valores a partir de R$ 500.
Para começo de conversa, vale destacar que é ilegal converter um carro para queimar gás de cozinha. O uso de GLP para “fins automotivos” é considerado “crime contra a ordem econômica” pela Lei 8.176, de 1991.
Por sua vez, a Resolução 673 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina que essa prática é infração grave, punida com a perda de cinco pontos no prontuário do motorista, multa de R$ 195,23 e apreensão do veículo. No Brasil é proibido até mesmo o transporte de botijões em automóveis.
Alto risco para os ocupantes do veículo
O mentor de energia a combustão da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) Everton Lopes explica que o primeiro problema é que o botijão de gás de cozinha é produzido para permanecer em situações estacionárias. “O cilindro de GLP é bem mais frágil que um de GNV (Gás Natural Veicular, específico para esse tipo de uso). Assim, há grande chance de ele se romper e explodir, principalmente em caso de acidente,” alerta.
Outro ponto crítico é que, como o uso de GLP não é permitido em veículos, tampouco há regulamentação do kit para conversão. Geralmente, a alimentação de gás de cozinha para o motor do carro é feita com mangueiras e conexões frágeis e inapropriadas. Lopes é taxativo quanto à precariedade desses dispositivos e opina que:
“Qualquer adaptação feita sem certificação não é confiável.”
Gás de cozinha pode causar danos ao carro.
Ao contrário do que muita gente pensa, a composição química do GNV é bem diferente em relação à do GLP. O primeiro é formado, grosso modo, por metano, enquanto a fórmula do segundo traz, majoritariamente, butano e propano. A queima do gás de cozinha, portanto, não seguirá os parâmetros previstos pelo projeto do motor.
Lopes explica que ocorrerão mudanças na lubrificação e na temperatura de trabalho do motor. Consequentemente, componentes como válvulas de admissão e de escapamento, pistões, anéis e camisas sofrerão desgaste mais acentuado. Além disso, o óleo lubrificante também pode ser contaminado pelo uso do gás de cozinha.
Outro problema apontado pelo engenheiro da SAE é o aumento significativo do nível de emissões de poluentes. Isso porque o GLP possui hidrocarbonetos, que são elementos mais contaminantes.
Fonte: https://autopapo.uol.com.br/noticia/converter-carro-gas-de-cozinha/